Carta de Amor #1 - Tristezelicidade
Dois meses em Angoulême, uma semana pós-festival e uma música de fazer chorar.
Quando eu era criança, para falar que era hora de ir embora, minha mãe sempre cantava uma musiquinha arrastada e melancólica:
“Já está chegando a hora de ir;
Venho aqui me despedir e dizer…”
Esse vírgulazinha sonora era só o que eu precisava pra entender que o negócio ficou sério. Se antes a gente tinha dado o famoso tchau brasileiro (tchau só por dizer e depois ficávamos sentados em volta da mesa enrolando com o copo de refrigerante quente ou tagarelando em pé encostados no batente da porta), agora era hora mesmo de pegar as coisas e vazar. O Beijo do Gordo, o Boa Noite do William Bonner, a vinheta do Fantástico.
Hoje eu tenho 27 anos. Um pouquinho antes da viagem, no fim do ano passado, minha mãe foi dormir e, no corredor de casa, cantou esse pedacilho de música. A voz dela ecoou pela casa e, lá no meu quarto, meu coração se encheu de uma melancolia profunda. Em uma fração de tempo eu me senti em 1999, bem pequenininha, encantada com a novidade do mundo, descobrindo que a minha mãe cantava como um passarinho. Aí eu volto a ter quase 30 anos (arredondando pra cima), deitada na minha cama e penso: como pode uma canção de 10 segundos me transportar pra quando eu era quase um neném? Como pode a voz da minha mãe pode me levar me levar tão rápido às memórias mais antigas? Como pode uma coisa que começou como uma piadinha simpática me fazer quase chorar?
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